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A história do vôlei de praia, de diversão familiar a esporte olímpico

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Muita gente pode achar que o vôlei de praia é apenas uma versão do vôlei de quadra jogada à beira mar. E meio que é isso mesmo, tanto que não se pode falar da história do voleibol de praia sem citar seu irmão de quadra. Mas apesar de parecidos, os dois também guardam lá suas diferenças – e elas vão muito além do piso, do uniforme ou do ambiente de jogo.

O vôlei de quadra surgiu no final do século 19 e acreditem: ele é primo do basquete. Tudo começou quando William G. Morgan, da Associação Cristã de Rapazes (YMCA) de Massachusetts, resolveu criar um jogo para entreter sua turma de empresários, mas que tivesse menos contato físico que o basquete. Ele mesclou elementos do basquete, beisebol, tênis e handebol, nascendo, então, o que hoje conhecemos como voleibol.

Rapidamente o esporte se espalhou pelo mundo e se popularizou em diferentes países. Os primeiros registros de famílias se divertindo nas praias com um jogo similar ao vôlei de quadra foram feitos em 1915, nas areias de Waikiki, no Havaí. Entre os anos de 1920 e 1940, a “brincadeira” rapidamente se espalhou entre os mais jovens, afinal, bastava uma bola, uma rede e trajes de banho para a diversão entre amigos e familiares na praia ser completa.

Os primeiros torneios de voleibol de praia

Em 1930, as mulheres já disputavam pequenos torneios, como o ocorrido na praia de Santa Monica, no sul da Califórnia. Em seguida, nos anos 1940, os primeiros torneios em duplas do voleibol de praia aconteceram nos Estados Unidos. Então, em 1947, aconteceu o primeiro torneio oficial de voleibol de praia, organizado por Bernie Holtzman em State Beach, também na Califórnia. A dupla Saenez e Harris saíram vitoriosas, mas não houve premiação em dinheiro. Os ganhadores foram recompensados com uma caixa de refrigerantes.

Na década seguinte, a modalidade se espalhou para mais países, incluindo o Brasil, que teve seu primeiro torneio de vôlei de praia realizado neste período. No entanto, foi nos anos 1960 que o vôlei de praia explodiu de vez. E boa parte desse sucesso se deve à participação do presidente Kennedy no primeiro evento oficial de vôlei de praia de Sorrento Beach, em Los Angeles. 

O esporte se profissionaliza

Ao longo da década de 1970, o vôlei de praia se concretizou como esporte, conquistando cada vez mais fãs, principalmente nas cidades litorâneas dos Estados Unidos. O primeiro campeonato de vôlei de praia patrocinado comercialmente ocorreu em 1974, em San Diego, na Califórnia. Um total de US$1500 foram distribuídos como premiação, e cerca de 250 espectadores viram Dennis Hare e Fred Zuelich saírem campeões. Em 1976, um novo torneio é realizado, agora em State Beach, Pacific Palisades, na Califórnia, e com um público estimado de 30 mil pessoas. A premiação também aumentou, chegando a US$5 mil, e a dupla formada por Jim Menges e Greg Lee saiu campeã.

A história do voleibol de praia no Brasil

Nos anos 1980, o esporte já estava consolidado no mundo, com circuitos sendo realizados em diversas cidades estadunidenses. Enquanto isso, no Brasil o vôlei de praia também crescia em praias como as de Copacabana e Ipanema, no Rio de Janeiro. Foram as areias de Copacabana, inclusive, que serviram de palco para a primeira mostra internacional de vôlei de praia, realizada em 1986. 

Foi nessa época que começaram a surgir os primeiros ídolos do vôlei de praia mundial, entre eles os brasileiros Renan, Badá, Montanaro, William, Jackie Silva, Isabel Salgado, Vera Mossa e Regina Uchoa. Além deles, Pat Powers, que havia sido campeão olímpico de vôlei em 1984, e Sinjin Smith, considerado o rei da praia, também se tornaram famosos mundialmente. 

O sucesso do evento no Rio de Janeiro foi tanto que, em 1987, a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) realizou o primeiro torneio internacional de vôlei de praia nas areias da praia imortalizada na canção de Tom Jobim: Ipanema. A premiação era de US$22 mil e Sinjin Smith e Randy Stoklos, dos Estados Unidos, saíram vencedores.

A partir de então, a FIVB passou a organizar anualmente um torneio internacional no Brasil. E com a chegada da década de 1990 e a popularização mundial do esporte, realizou-se o primeiro circuito internacional de voleibol de praia. Além do Brasil, Itália e Japão também receberam partidas do torneio masculino. 

As mulheres da praia

Apesar das primeiras disputas de vôlei de praia ainda amadoras terem sido disputadas por mulheres, foi somente em 1993 que elas ganharam um torneio para chamar de seu. Foi neste ano que elas disputaram um mundial de voleibol de praia, organizado pela FIVB na cidade de Almeria, na Espanha. Também foi neste ano que a Federação criou um departamento dedicado à modalidade.

No ano seguinte, Brasil, Chile e Estados Unidos sediaram eventos de vôlei feminino. Também em 1994, aconteceu um dos maiores marcos da história do voleibol de praia: a modalidade foi reconhecida como disciplina olímpica em Monte Carlo. Em 1996, já existiam mais de 50 Federações Nacionais com conselhos dedicados ao vôlei de praia. Também nesse ano, cerca de 600 atletas representando 42 diferentes países participaram da temporada de qualificação olímpica.

A estreia nos Jogos Olímpicos

Foi durante os Jogos Olímpicos de Atlanta que o vôlei de praia fez sua estreia olímpica. E, deste então, não saiu mais do programa olímpico. Em sua primeira participação, 24 equipes masculinas e outras 18 femininas entraram na quadra de areia de Atlanta Beach em busca do ouro. 

Ao longo dos seis dias de jogos, mais de 100 mil espectadores lotaram a arena. Na modalidade feminina, as brasileiras Jackie Silva e Sandra Pires ficaram com o ouro. Enquanto isso, Mônica Rodrigues e Adriana Samuel, também do Brasil, ficaram com a prata e as australianas Natalie Cook e Kerri-Ann Pottharst, com o bronze.

Entre os homens, o ouro ficou com os norte-americanos Karch Kiraly e Kent Steffes. Mike Dodd e Mike Witmarsh, também dos Estados Unidos, levaram a prata e, por fim, o bronze ficou com os canadenses John Child e Mark Heese.

Mais tarde, no ano 2000, foi a vez de Sydney receber os Jogos Olímpicos, e novamente o sucesso do vôlei de praia foi estrondoso. Dessa vez, 24 equipes masculinas e outras 24 femininas brigaram pela medalha. O evento ocorreu em um estádio moderno, com capacidade para cerca de 10 mil espectadores. 

As australianas Natalie Cook e Kerri-Ann Pottharst subiram ao ponto mais alto do pódio, enquanto as duplas brasileiras formadas por Adriana Behar e Shelda; e Sandra Pires e Adriana Samuel ficaram com a praia e o bronze, respectivamente. Os homens, por sua vez, viram os norte-americanos Dain Blanton e Eric Fonoimoana ganharem o ouro olímpico, enquanto os brasileiros Zé Marco e Ricardo ficaram com a prata. Assim, o bronze coube à dupla alemã formada por Jörg Ahmann e Axel Hager. 

Em todas as edições dos Jogos Olímpicos, o Brasil só não esteve entre os medalhistas apenas nas Olimpíadas de Tóquio de 2020. 

As diferenças entre o voleibol de praia e o vôlei de quadra

Nas regras

Apesar das regras entre o vôlei de praia e o de quadra serem praticamente as mesas, existem algumas pequenas diferenças entre as duas modalidades. Para começar, o vôlei de quadra conta com seis atletas na disputa, enquanto isso, o de praia é disputado em duplas. Por isso, não existe rodízio de jogadores durante o jogo, os atletas apenas se revezam no saque. No entanto, se ao fim de cada set os times trocam de lado na quadra, na praia isso acontece a cada sete pontos marcados.

O tamanho das quadras também é distinto. A de areia, por exemplo, tem dois metros a menos de comprimento que a comum; enquanto que na largura, a diferença é de um metro. No vôlei de praia também não existe a linha de três metros da versão quadra.

A bola do vôlei de praia também é mais macia e ligeiramente maior do que a usada em quadra. Sua circunferência deve ser entre 66cm e 68cm, um centímetro a mais que a tradicional, enquanto o limite de peso é o mesmo: até 280 gramas. Ela também deve ter cores mais fortes a fim de os atletas não a confundam com a areia.

No uniforme

O uniforme utilizado também é outra diferença óbvia entre as duas disciplinas. Enquanto em quadra homens e mulheres utilizam shorts, camisetas, meias, tênis e acessórios de proteção como joelheiras, na areia é diferente. O uniforme masculino conta com calção largo e camiseta sem mangas, enquanto as mulheres podem usar top com biquíni ou short, e ambos entram em jogo descalços. Apenas em locais frios os atletas podem vestir roupas térmicas e sapatilhas de neoprene. 

Outra exclusividade do voleibol de praia em relação à quadra é o uso de acessórios. Os óculos escuros são fundamentais não apenas para proteger os olhos dos reflexos do sol ou da luz dos refletores – nos jogos disputados à noite –, mas também para evitar que a areia entre nos olhos dos jogadores. Além disso, os jogadores também podem utilizar bonés e viseiras na praia.

Por fim, uma curiosidade: por ser um esporte ao ar livre, uma partida de vôlei de praia acontece independente do clima. Faça chuva ou faça sol, os atletas entram em quadra – exceto em casos de temporais com raios ou eventos climáticos que possam colocar em risco a segurança de jogadores, equipe técnica e público. Um exemplo recente foi a final masculina dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, quando uma chuva torrencial caía na cidade. Mesmo debaixo de água, a partida aconteceu e os brasileiros Alison e Bruno Schmidt saíram campeões.