Imagine o encontro entre os dois únicos campeões pesos-pesados de uma época. Para quem viver nos anos 1960, esse seria o confronto entre Muhammad Ali e Rocky Marciano, dois dos maiores pugilistas do período. Curiosamente, o sonhado encontro nunca aconteceu. Ou melhor, aconteceu, mas de “mentirinha”. A seguir, conheça a história do The Super Fight: Muhammad Ali vs. Rocky Marciano.
O que foi o The Super Fight?
Em 1969, Ali e Marciano eram os maiores nomes dentre os pesos pesados. O primeiro estava invicto e era o dono do cinturão, enquanto o segundo já havia se aposentado, mas sem nunca ter perdido uma luta no boxe profissional. Colocar ambos frente a frente, então, parecia a luta perfeita para levar os fãs à loucura.
No entanto, os dois nunca se encontraram em um evento oficial. A The Super Fight foi, na verdade, uma gravação da qual ambos participaram. Na época, com os computadores em alta, um promotor chamado Murray Woroner decidiu criar uma espécie de torneio de fantasia, no qual os resultados seriam calculados digitalmente por um computador.
Em seguida, ele passou a narrar as lutas criadas no computador na rádio, com transmissão para o mundo inteiro. E o resultado foi um sucesso de público. Até mesmo os boxeadores participantes gostaram do programa, alguns chegaram a participar como comentaristas.
Quem não gostou muito, porém, foi Muhammed Ali, que, na versão de Woroner, perdia antes mesmo de avançar até a final. Então, para fugir de um processo, o produtor pagou uma quantia ao pugilista e ainda garantiu que gravaria um novo combate, agora entre ele e Rocky Marciano — que foi o vencedor do primeiro evento fantasia.
Ali gostou da proposta. O próprio Marciano, também. Assim, ficou acertado que eles gravariam uma luta de diferentes formas e ângulos, e que o resultado ficaria a cargo do computador. Então, em julho de 1969, Muhammed Ali e Rocky Marciano se encontraram em uma academia para gravar o confronto.
Como foi feita a superluta
Os dois pesos-pesados se “enfrentaram” por cerca de 70 rounds de um minuto cada. Na época, a revista Sports Illustated divulgou que os movimentos também tinham orientação baseada nas definições do que o computador havia calculado para tal luta. No entanto, anos depois, Ali contou em sua autobiografia que nenhum golpe ali havia sido calculado por computador.
Para que ninguém se machucasse seriamente, os dois lutadores evitaram acertar golpes na cabeça do oponente, focando tronco e barriga. Segundo o jornal britânico The Guardian, apesar de sérios, os dois pugilistas protagonizaram momentos inusitados, como quando Ali acertou a nuca de Marciano e fez sua peruca — que, segundo Rocky, o deixava mais jovem — voar. Já o sangue visto nas imagens foi feito com ketchup.
Ainda segundo a autobiografia de Ali, o difícil era decidir quem seria o vencedor, pois nenhum estava disposto a encenar a própria derrota. Assim, a decisão ficou para os produtores e o tal computador.
Embora a luta fosse ser narrada nas rádios, as imagens foram registradas em vídeo. Ao final das gravações, Muhammed Ali e Rocky Marciano se tornaram bons amigos. “Eu me sinto mais próximo dele do que de qualquer lutador branco no ramo. Nós falamos a língua dos lutadores do jeito que só amigos podem, conversa de sangue, conversa de fundo. Nosso trabalho é falso, mas nossa amizade se tornou real”, escreveu Ali em sua autobiografia.
Infelizmente, cerca de um mês após o fim das filmagens, Rocky Marciano faleceu após o avião em que viajava sofrer uma pane e cair.
Muhammad Ali vs. Rocky Marciano: quem venceu?
Em janeiro de 1970, o The Super Fight: Muhammad Ali vs. Rocky Marciano foi exibido nos cinemas. O longa teve apenas uma única exibição em cerca de mil salas de cinema nos Estados Unidos e mais 500 no Canadá, México e Europa. Marciano não chegou a ver o resultado das filmagens, mas Ali compareceu ao evento.
Então, juntamente ao público, o pugilista acompanhou a luta e viu Marciano “apanhar” por 12 rounds. Quase derrubado, Rocky retornou no 13º round para nocautear Ali em 57 segundos. O computador havia escolhido Marciano como vencedor.
