Popular no mundo inteiro, o boxe, assim como a corrida ou o wrestling, está entre alguns dos esportes mais antigos da história. Hoje, é um mercado que movimenta cifras milionárias ao redor do planeta, com pugilistas profissionais que têm um verdadeiro status de estrelas. Isso sem falar no boxe amador, que enche o público de emoção durante os torneios e olimpíadas.
Nas linhas a seguir, viaje pela história do boxe, entenda a diferença entre boxe profissional e amador, as diferentes organizações, o boxe no Brasil e outras curiosidades sobre esta arte marcial.
História do boxe
Os primeiros registros do boxe como prática esportiva datam de séculos antes de Cristo. Na Grécia Antiga, a arte marcial já figurava nas primeiras Olimpíadas. A troca de socos, porém, provavelmente vem da Pré-História da humanidade. No entanto, existem registros bastante antigos entre achados arqueológicos sumérios e egípcios, como esculturas que mostravam disputas com punhos.
Também é da Grécia que vêm os primeiros registros de algo parecido com regras. Na época, não havia divisão em rounds, e a luta só terminava quando um dos oponentes desistia ou não conseguisse mais continuar. Um lutador também não podia segurar o rival próximo a si para golpeá-lo — como o clinch de hoje em dia; e as lutas ocorriam ao ar livre.
No Império Romano, o esporte se espalhou pelo continente que hoje é a Europa. Embora na Grécia já se utilizassem tiras de couro para proteger os dedos, foi nesta época que o uso de proteção nos punhos e mãos se tornou recorrente. Com o declínio de Roma, contudo, o boxe também desapareceu por séculos.
Foi somente no final do século 16 que a história do boxe voltou a ser contada, quando o esporte ressurgiu na Grã-Bretanha. Os primeiros registros de lutas formais datam de 1681, realizadas em Londres. Homens competiam entre si, sem luvas e com os punhos nus, a troco de qualquer quantia acordada mais o valor das apostas.
O boxe britânico
Apesar de proibidas, as lutas se boxe se tornaram cada vez mais populares na Londres dos anos 1700. Em 1719, James Figg, um famoso e premiado lutador, foi considerado campeão nacional. Anos depois, Jack Broughton, discípulo de Figg, começou sua jornada rumo à aceitação e legalização do esporte. Foi ele, inclusive, quem fez os primeiros conjuntos de regras. Não à toa, muitos reconhecem Broughton como o “pai do boxe”.
Contudo, as lutas passaram a ser “combinadas”, ou seja, os resultados eram previamente determinados. E, com isso, a popularidade do esporte voltou a cair. Mas, no começo do século seguinte, o boxe não apenas ressurgiu, como passou a ser um esporte associado à aristocracia, simbolizando ideais de masculinidade e honra para os britânicos.
Foi nesse período que as regras do boxe começaram a ser refinadas, sempre com base no conjunto criado por Broughton. E, em 1857, John Graham Chambers, em parceria com John Sholto Douglas, 8º Marquês de Queensberry, criou as Regras de Queensberry, mais parecidas com o regulamento atual.
Comparativo das regras da história do boxe
Regras de Broughton | London Prize Ring | Regras de Queensberry | |||
---|---|---|---|---|---|
Permitia | Proibia | Novidades | Proibia | Novidades | Proibia |
Imobilizações | Agarrar o oponente abaixo da cintura | Instituiu o ringue, que devia medir 24 pés (7,32 metros) | Chutar ou arranhar | Instituiu o uso de luvas acolchoadas | Técnicas de luta livre |
Rounds sem limite de tempo | Bater em um oponente caído | O round terminava quando um lutador caía | Dar cabeçadas | Definiu que cada round duraria três minutos, com um minuto de descanso entre eles | Bater em um oponente caído |
Contagem de 30 segundos após o lutador caído levantar | O round seguinte começava 30 segundos depois, com cada lutador tenho oito segundos para chegar até o centro do ringue | Morder ou dar golpes baixos | Qualquer lutador que caísse tinha que se levantar sem ajuda em dez segundos | ||
Uso de silenciadores (proteções precursoras das luvas) | Bater em um oponente caído | Um homem ajoelhado é considerado caído |
Após fazer sucesso no Reino Unido, o boxe foi para os Estados Unidos, onde se tornou extremamente popular nos anos 1800. Contudo, em ambos os países, ainda era um esporte proibido. Foi somente no final do século que ele se tornou uma modalidade esportiva organizada. E, em seguida, dividida entre boxe amador ou olímpico e o boxe profissional.

Boxe olímpico vs. boxe profissional
Para muitas pessoas, pode soar estranho o fato de o boxe olímpico ou aquele praticado em campeonatos mundiais ser considerado amador. Acontece que, embora o esporte estivesse presente nas Olimpíadas da Era Antiga, o boxe olímpico atual é bem diferente daquele praticado na Grécia, por exemplo. Por outro lado, o chamado boxe profissional é o que mais lembra o esporte em sua origem.
No entanto, a diferença não para por aí. Isso porque, das regras ao uniforme, passando pelo número e duração de rounds, estilo de luta e outros elementos são bem diferentes entre as duas modalidades.
Tabela boxe olímpico vs boxe profissional
Boxe olímpico | Boxe profissional |
---|---|
Cada luta tem três rounds de três minutos | Entre quatro e 12 assaltos de dois ou três minutos |
Ritmo mais intenso e rápido | Ritmo mais estratégico |
Cinco juízes | Três juízes |
Uniformes padronizados, nas cores azul e vermelha | Calções personalizados, estampas de publicidade são permitidas |
7 categorias de peso no masculino e seis no feminino | 17 categorias de peso |
Organizações de boxe
Enquanto a maioria dos esportes regulamentos possui uma entidade representativa — como a FIFA para o futebol, a FIV para o Vôlei ou a FIBA para o basquete —, o boxe não é bem assim. Não existe uma única organização reconhecida como a entidade máxima de controle do esporte.
Isso porque, nos Estados Unidos da década de 1920, duas organizações surgiram quase ao mesmo tempo: a Associação Nacional de Boxe, privada; e a Comissão Atlética do Estado de Nova York, estadual. Já na Europa, o órgão dirigente era a União Internacional de Boxe, que depois se tornou a União Europeia de Boxe. A existência de organizações diferentes acabou levando, por exemplo, à nomeação de campeões mundiais diferentes ao mesmo tempo.
Várias tentativas de unificar as entidades foram feitas, mas sem sucesso. Nos anos 1960, surgiu mais um órgão, o Conselho Mundial de Boxe (WBC, na sigla em inglês). Nesse período, a Associação Nacional de Boxe mudou o nome para Associação Mundial de Boxe (WBA). E, para complicar ainda mais o cenário, em 1983 apareceu a Federação Internacional de Boxe (IBF).
Assim, não é incomum existir mais de um campeão mundial em cada categoria de peso, a depender da entidade regulamentadora. Por outro lado, aquele pugilista que consegue se tornar campeão nelas todas se consagra “campeão indiscutível” de sua divisão de peso.
Primeira grande luta de boxe profissional
Como o boxe só foi regulamentado legalizadamente no final dos anos 1800, aquela que pode ser chamada como a primeira grande luta da história do boxe aconteceu em setembro de 1892. Na noite, uma plateia lotada se reuniu no Olympic Club, de Nova Orleans, nos Estados Unidos, para ver John Sullivan, então detentor do título mundial peso-pesado, enfrentar Jim Corbett.
Com ingressos que chegavam a custar cem dólares, o evento foi considerado o primeiro grande combate do boxe profissional moderno, e seguia as regras de Queensbury. O vencedor ganharia um prêmio de 35 mil dólares. E, após 21 rounds, o azarão Corbett venceu, após nocautear Sullivan.
História do boxe no Brasil
O Brasil não estava imune ao esporte que crescia nos Estados Unidos e na Inglaterra no início do século 20. Assim, no começo dos anos 1900, o boxe desembarcou com força no país. A primeira luta de que se tem registro aconteceu em São Paulo, em 1913. Um dos lutadores era Luis Sucupira, o “Apolo Brasileiro”, um dos primeiros entusiastas do esporte no Brasil.
Pouco a pouco, o esporte foi ganhando espaço e conquistando adeptos no país. Em 1919, Góes Neto, outro fã de boxe, foi além. Neto era marinheiro e, durante sua passagem pela Europa, aprendeu diversas técnicas de pugilismo no Velho Continente.
Ao regressar, ele encontrou casualmente parentes do então presidente da república, Rodrigues Alves, no Rio de Janeiro. Logo, ele tratou de mostrar o que havia aprendido fora do país. Quando Alves tomou conhecimento do esporte que surgia, passou a apoiar o boxe e sua difusão pelo Brasil.
Assim, diversas academias passaram a surgir em diferentes cidades. Em seguida, em 1920, as primeiras grandes cidades — como Rio de Janeiro, São Paulo e Santos — regulamentaram o esporte. E, em 1933, o Brasil já participava de sua primeira competição internacional, o Sul-Americano de Boxe, realizado na Argentina.
Curiosidades sobre a história do boxe
- A palavra pugilismo, sinônimo para boxe, tem origem no latim, pugnus, que significa “punho”;
- Uma das primeiras representações de boxeadores aparece em um vaso minoico de Creta, datado por volta de 1500 a.C.;
- O boxe também aparece na Ilíada, quando Homero, autor do épico grego, relata uma luta incrivelmente sangrenta;
- A primeira aparição do boxe nos Jogos Olímpicos foi em 668 a.C., na 23ª edição da Era Antiga;
- Já o boxe da Era Moderna estreou nos Jogos Olímpicos de 1904;
- A competição feminina passou ser disputada somente a partir dos Jogos de Londres, em 2012.