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Conheça a história do judô e as principais curiosidades sobre o esporte

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O judô é hoje um esporte olímpico bem estabelecido praticado por milhões de pessoas ao redor do mundo. Em 2019, o Brasil contava com cerca de 2,5 milhões de praticantes de judô, conforme dados da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Saiba mais sobre a história do judô.

Por décadas, o judô foi a única contribuição asiática para o esporte mundial. Mas a arte marcial ultrapassa a definição de esporte competitivo, sendo também uma atividade enriquecida por sua tradição e cultura milenares, assim sendo reconhecida como um método de autodefesa usado globalmente.

Qual é a história do judô?

A história do judô está relacionada à mudança de uma antiga arte marcial, destinada a “matar o inimigo”, para um esporte moderno que carrega valores úteis para a sociedade. Assim sendo, o judô não existiria sem um homem, Kano Jigoro Shihan, considerado o pai do esporte. 

Kano conseguiu misturar tradição e modernidade, construindo seu método sobre a destreza individual para o benefício de todos. Dessa maneira, a qualidade de suas obras, a popularidade da civilização japonesa, especialmente entre os artistas, e um contexto histórico favorável são elementos essenciais para entender como a nova atividade se desenvolveu primeiro em nível nacional antes de ir para o palco internacional.

História do criador do judô

Desde muito cedo em sua vida, influências ocidentais foram adicionadas às tradições e educação orientais de Kano Shihan, o pai do judô. Aos 17 anos, ele ingressou na Universidade Imperial de Tóquio, que estava produzindo muitas figuras proeminentes da Era Meiji (1868-1912). 

Foi quando Kano decidiu aprender mais sobre jujutsu. Mas naquela época em Tóquio, não era fácil encontrar instrutores das antigas técnicas de jujutsu. Assim, o Kobusho, a escola de artes marciais, onde os samurais costumavam ser ensinados, desapareceu com as reformas da Restauração Meiji e o jujutsu passou a enfrentar preconceito.

Após meses de pesquisa, ele finalmente encontrou um ex-mestre de jujutsu do Kobusho, Fukuda Hachinosuke. Em 1881, ele começou a estudar o jujutsu da Escola Kito com outro professor do Kobusho, Likubo Tsunetoshi. Likubo era um especialista em projeções e enfatizava mais o lado espiritual da arte, o que principalmente inspirou Kano a destacar o lado moral de seu método. 

O koshiki no kata, um conjunto de técnicas presente no judô, é herdado da Escola Kito, ilustrando formas e meios de combate enquanto usa armadura. Foi um dos katas favoritos de Kano, que ele executou perante o Imperador em 1929.

Os katas são conjuntos de movimentos de ataque e defesa, que estão presentes nas mais diversas artes marciais, realizados em conjunto ou individualmente. O termo, na tradução para o português, significa “forma”.

Em 1882, Kano abriu uma academia de judô, o Kodokan, em um quarto de 12 tatames alugado de um mosteiro budista em Tóquio. O número de seus alunos aumentou rapidamente e, portanto, o Kodokan mudou várias vezes. Foi quando o método de Kano foi adotado pela polícia e pela Marinha e introduzido em escolas e universidades, que realmente começou a se expandir por todo o país.

História do judô nas Olimpíadas

A década de 1930 marcou o surto do Judô no mundo todo. Dessa maneira, quase todas as nações civilizadas já conheciam e praticavam o Judô. No Japão, eram realizadas competições na forma de campeonatos, e na Europa, devido aos diversos encontros realizados, começou o processo de organização de uma estrutura esportiva europeia.

Esse processo de massificação e evolução levou à implementação das regras de arbitragem e à primeira competição internacional realizada na Europa, em 1947, em Londres, envolvendo equipes da França e da Inglaterra.

Em 1948, o Judô ganha outro aliado para seu reconhecimento como esporte internacional, quando fundaram a União Europeia de Judô, promovendo em 1951, em Paris, o primeiro Campeonato Europeu. Assim, dois anos mais tarde, aconteceu o primeiro Campeonato Mundial, organizado pela Federação Internacional de Judô (FIJ), com a participação de 18 países.

Kano o Kodokan e deu início à trajetória do Judô como esporte. Desse modo, em 1964, em Tóquio, o pai do judô teve a recompensa póstuma de seu esforço, quando a arte marcial foi considerada um esporte olímpico.

Os competidores japoneses conquistaram o ouro em todas as categorias, exceto na categoria aberta, onde um campeão não japonês foi coroado. Isso foi um sinal de que o judô já havia se enraizado em países fora do Japão. 

História da mulher no judô

A presença das mulheres na competição começou em 1975, nos Campeonatos Europeus, e em 1980, nos Campeonatos Mundiais. No entanto, o judô feminino foi introduzido como evento de demonstração nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988 e somente adicionado ao programa oficial nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992.

Em 1893, Kano Jigoro Shihan, o pai do judô, já estava ensinando judô para sua esposa, Sumako, bem como para suas amigas. Porém, somente em novembro de 1923 que a educação regular para mulheres foi colocada em prática. Mas o judô feminino na época era limitado à educação física e moral. Assim, a prática se resumia ao exercício de kata e randori, enquanto a competição era proibida.

A Sra. Ozaki Katsuko foi a primeira mulher a receber o grau de faixa preta, com a confirmação de Kano, em 1932. Enquanto o fundador do judô, Kano não poupava esforços para internacionalizar seu método. Então, por meio de suas incessantes viagens ao exterior e graças ao envio de seus principais alunos pelo planeta, ele mesmo organizava a disseminação do judô feminino.

Nos Estados Unidos, pioneiras se tornaram embaixadoras do judô. Ruth Horan descobriu o judô em 1951, enquanto assistia a um famoso programa de televisão. Com o marido, ela decidiu fazer aulas. 

Horan começou ajudando o marido e, em seguida, em 1909, abriu seu próprio dojo (local de treino) e dirigiu um clube de defesa pessoal para sufragistas. Ela treinou um grupo de cerca de trinta mulheres.  

Fukuda Keiko, que foi estudante direta de Kano, foi a mulher com o maior grau no mundo, tendo alcançado 9º Dan da graduação do judô. Seu papel foi decisivo na disseminação dos métodos e valores do judô feminino do Kodokan. Fukuda Keiko desempenhou um papel crucial na disseminação do judô feminino ao redor do mundo.

Qual é a história do judô no Brasil?

Massao Shinohara

Massao Shinohara, o primeiro e único brasileiro a alcançar a graduação máxima no judô, o 10º Dan, foi um dos pioneiros do esporte no Brasil. De acordo com o judoca em um manual de sua autoria, o judô chegou ao Brasil por volta de 1922, com a vinda da imigração japonesa ao país. 

Shinohara viveu no interior de São Paulo a maior parte de sua vida, e em 1956 criou a Associação de Judô Vila Sônia, em São Paulo. Assim, tornou-se referência de judô no país e atuou como técnico da seleção olímpica nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984.

Mitsuyo Maeda 

Outro nome associado ao pioneirismo da arte marcial no país é de Mitsuyo Maeda, também conhecido como Conde Koma, que chegou ao país no início dos anos 1910. Ele aceitava desafios e ganhava todos, promovendo assim o esporte. 

Maeda se estabeleceu em Belém do Pará, onde fundou sua escola com algum sucesso. Seus alunos incluíam a família Gracie e Luiz França, que deram continuidade ao seu trabalho e contribuíram para o crescimento do judô e do jiu-jitsu no Brasil.

A chegada de um grande número de imigrantes a partir de 1908 garantiu ao Brasil o título de maior comunidade japonesa fora do Japão. Em 1914, dois discípulos diretos de Kano, o fundador do judô, desembarcaram no Brasil. 

Dentre os discípulos estava Mitsuyo Maeda, somado a Soishiro Satake. Juntos, desafiavam lutadores de outras modalidades com o intuito de promover a nova arte marcial. Muitas das primeiras academias surgiram no norte do país e no interior de São Paulo, que se tornaria um centro de difusão do esporte. 

As primeiras federações nasceram na década de 50, incluindo a Federação Paulista de Judô, fundada em 1952. O primeiro campeonato brasileiro de judô aconteceu no Rio de Janeiro em 1954. E a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) teve sua criação em 13 de março de 1969.

Brasil nas Olimpíadas

Em 1972, nos Jogos Olímpicos de Munique, o judoca brasileiro Chiaki Ishii conquistou uma medalha de bronze no judô na categoria abaixo de 98 kg. O feito foi pioneiro e abriu caminho para as gerações subsequentes de judocas brasileiros alcançarem o pódio em todas as edições dos Jogos Olímpicos desde 1984. Essas conquistas solidificaram o Brasil como uma potência respeitada no esporte originado no Japão.

A partir dos anos 1980, as crianças que testemunharam a conquista de Ishii em 1972 já estavam crescidas o suficiente para almejar resultados olímpicos. O paulista Aurélio Fernández Miguel começou no esporte aos 4 anos, por recomendação médica para tratar uma doença respiratória. 

Nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988, Aurélio fez história ao garantir a primeira medalha de ouro para o judô brasileiro na categoria meio-pesado. Oito anos depois, nas Olimpíadas de Atlanta, conquistou novamente o pódio ao receber a medalha de bronze.

A primeira medalha feminina veio em 2008, quando Ketleyn Quadros conquistou o bronze em Pequim. Quatro anos depois, em Londres, a judoca piauiense Sarah Menezes fez história ao garantir o primeiro ouro feminino para o judô brasileiro.