Um dos resultados máximos nas artes marciais que envolvem socos ou chutes, como o boxe ou o MMA, é o nocaute. No entanto, enquanto muitos pensam que basta levar o oponente à lona para ser campeão por nocaute, a coisa não é bem assim. Existe uma série de detalhes e, dependendo do esporte, as regras que definem o que é nocautear alguém podem ser diferentes.
Veja a seguir, então, como cada esporte define o termo e as particularidades sobre o assunto.
Afinal, o que é nocaute?
Segundo o dicionário, o nocaute é “qualquer tipo de pancada que leva alguém à inconsciência”. E, de fato, seja no boxe ou no MMA, por exemplo, esse é o conceito básico. Contudo, nas artes marciais, não é preciso necessariamente levar o oponente a perder a consciência para que este seja considerado “nocauteado”.
Na verdade, não é preciso nem que ele caia no chão. Isso porque se, após receber o golpe, o lutador ficar em um estado de forte atordoamento, sem conseguir reagir de forma lógica ou responder de forma clara a perguntas feitas pelo juiz, ele pode perder por nocaute.
Quais são os tipos de nocaute
Existem dois tipos de nocaute: o técnico, abreviado como TKO, e o nocaute propriamente dito, também chamado nocaute por contagem ou KO.
Nocaute técnico
Tanto no boxe quanto no MMA, o nocaute técnico funciona da mesma forma. Ele ocorre quando o juiz interrompe a luta por considerar que um dos lutadores não tem condições de se defender dos golpes que está recebendo. Além disso, em casos nos quais um dos oponentes desiste, ou seja, “joga a toalha”, ou quando alguma intervenção médica interrompe a luta, o outro lado sai como vencedor por nocaute técnico.
Por contagem
Esse é o tipo mais raro, mas também o mais emocionante. Ele acontece após o lutador receber um golpe de forma tão contundente que simplesmente cai desacordado ou fica atordoado a ponto de não ter mais condições de retornar à luta. No boxe, o juiz abre uma contagem que dura geralmente entre oito e dez segundos. Se, nesse período, o lutador caído não se recuperar, a vitória é dada ao outro lado.
No MMA, por sua vez, basta o lutador golpeado cair desacordado ou visivelmente atordoado a ponto de não poder voltar para que o juiz o considere nocauteado. Nesta modalidade, não há a abertura de contagem.
Vale ressaltar que, mesmo que um lutador se levante após cair com o golpe, se ele continuar cambaleante ou sem conseguir se firmar na posição de guarda, isso não configura necessariamente a retomada da luta. Uma vez que o juiz decida que houve o nocaute, a vitória vai para a outra parte do mesmo jeito.
Um caso polêmico que ocorreu recentemente foi na luta entre Hebert Conceição e Oleksandr Khyzhniak, no boxe olímpico durante os Jogos de Paris 2024. Após acertar um cruzado de esquerda em Khyzhniak, o juiz declarou a vitória do brasileiro. Contudo, o ucraniano contestou amplamente resultado.
Acontece que, após receber o golpe, Oleksandr consegue se levantar, mas extremamente desnorteado. Ele ainda arrisca alguns passos cambaleantes, caindo, inclusive, em direção ao árbitro. Diante disso, o juiz indonésio Muhammad Arisa declara a vitória do brasileiro, que deixou a disputa com a medalha de ouro.
A ciência por trás do golpe perfeito
O segredo para levar um oponente à lona vai muito além da força bruta de quem bate. Trata-se de uma mistura de força, técnica, habilidade e uma pequena dose de sorte. O que faz um lutador ficar atordoado ou, em muitos casos, até desmaiar é como o cérebro é afetado pelo impacto.
Para começar, é preciso entender que o cérebro é envolto em um líquido chamado cerebroespinal. Assim, um golpe forte na cabeça faz o crânio se mover rapidamente. No entanto, com o apoio dos músculos do pescoço, ele desacelera rapidamente. O cérebro, porém, segue se movimentando juntamente a esse líquido, levando ao estado de torpor ou desorientação.
Caso o golpe atinja regiões mais sensíveis, como o queixo ou a região das têmporas, o impacto é capaz de causar uma disfunção na região cerebral responsável por manter a consciência. Assim, a pessoa golpeada pode cair desmaiada. Além disso, o impacto pode desordenar a transmissão entre cérebro e corpo. Por isso que, mesmo que a pessoa não desmaie ou recobre a consciência rapidamente, ela não consegue coordenar seus movimentos, e fica cambaleante.
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O maior problema de ser nocauteado — além de dar a vitória para o oponente — é que este tipo de golpe causa microlesões cerebrais. Com o tempo, isso pode trazer problemas para o lutador, como a perda de memória ou a dificuldade de processamento de informações. A liberação em excesso de alguns neurotransmissores durante o impacto também colabora para a criação de quadros de demência em lutadores.
É justamente para minimizar tais lesões que esportes como o boxe olímpico utilizam capacetes. Já em modalidades como o boxe convencional, o MMA ou o muay thai, o uso de protetores bucais é imprescindível. Mais do que proteger dentes e mucosas, ele também diminui o impacto de golpes no queixo bem como a movimentação cerebral dentro do crânio.
Por fim, um lutador nocauteado precisa de um tempo adequado de recuperação após a luta a fim de evitar a chamada “síndrome do segundo impacto”. Trata-se de uma condição causada por lesões repetitivas, que pode ser fatal.
